sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

CONHEÇA SUA DOR NOS OMBROS

Conceito
Ombro doloroso é uma síndrome caracterizada por dor e impotência funcional de graus variados, que acomete estruturas responsáveis pela movimentação do ombro, incluindo as articulações, tendões e músculos, ligamentos e bursas.
A estes sintomas se agregam àqueles que caracterizam transtornos ou afecções locais ou a distância de implicações etiopatogênicas no aparecimento da síndrome.

Anatomia local

1. Articulações
O ombro é formado por três articulações (gleno-umeral), acrômio-clavicular e esternoclavicular e uma região de deslizamento entre a escápula e região torácica, que são essenciais para todos os tipos de movimentos realizados pelo ombro.

2. Tendões e músculos
O principal grupo muscular responsável pela movimentação do ombro é o manguito rotador. O manguito rotador é formado pelos seguintes músculos: supra-espinhoso, infra-espinhoso, subescapular e redondo menor. Possui inserção tendinosa no úmero, facilitando a estabilidade articular e propiciando movimentação.

3. Bursas
A principal é a busca subacromial localizada acima do tendão do músculo supra-espinhoso e abaixo do acrômio.

4. Ligamentos
São responsáveis pela estabilidade da articulação; os principais são a cápsula gleno-umeral e o ligamento coracoacromial.

Causas
A frequência aproximada das causas de ombro doloroso é a seguinte:
· Bursites subdeltoidiana ou subacromial com ou sem depósito calcário - 80%;
· Miofibrosites - 8%;
· Artrites do ombro - 5%;
· Outros - 7%.
Em relação às causas de bursite subdeltoidiana ou subacromial temos:
· Atividade excessiva;
· Hiperabdução prolongada;
· Rutura do supra-espinhoso, infra-espinhoso ou longa porção do bíceps;
· Luxação acrômio-clavicular;
· Fratura do troquiter;
· Irritação por osteófitos;
· Aderência - pacientes crônicos em leito;
· Alterações - inflamações no manguito músculo tendinoso integrado.


Clínica/métodos e avaliação
As formas clínicas do ombro doloroso se classificam da seguinte forma:
a. Quanto à intensidade dos sintomas;
b. Quanto ao tempo do início da doença;
c. Quanto ao exame radiológico.
E quanto ao aparecimento de sintomas como:
a. Agudas;
b. Subagudas;
c. Crônicas;
d. Com ou sem calcificações.

Os sintomas da forma aguda são: dor intensa na região da articulação escápulo-umeral agravada pelos movimentos; irradiação da dor para o pescoço, às vezes para o braço, inserção do deltóides e pontas dos dedos; limitação dos movimentos com dor extrema a ligeira abdução ou rotação; hiperalgesia na região do troquiter, apófise caracóide e sulco bicipital.
Os sinais radiológicos são encontrados em 50% dos casos.
Na forma crônica encontramos os seguintes sintomas:
· Atrofia do deltóide supra-espinhoso;
· Incapacidade de movimentos articulação escápulo-umeral (abdução-rotação);
· Dor localizada ou irradiada de pouca intensidade;
· Hiperalgesia em nível do troquiter.
Os sinais radiológicos são de atrofia da grande tuberosidade do úmero (calcificações).

Exame físico
É o principal meio utilizado. Localizam-se pontos de maior sensibilidade à simples pressão digital (inserção supra-espinhoso, longa porção do bíceps, articulação acrômio-clavicular, apófise coracóide, bolsa subacromial).
O arco doloroso de Simmonds é frequente. A abdução é dificultada na passagem da grande tuberosidade do úmero sob o acrômio.
A manobra de Yergason é positiva para alteração a longa porção do bíceps quando o braço estiver em abdução e o antebraço flexionado em 90 graus. A supinação e a contra-resistência despertam dor na corrediça bicipital.
Importante é o exame em nível do tendão do supra-espinhoso, em que se instalam lesões mais graves.
Elas se localizam em áreas correspondentes ao assoalho da bolsa subacromial, na qual o tendão do supra-espinhoso se adere totalmente a cápsula articular.
Rotação externa e interna.
Abdução - Adução contra-resistência.

Exame radiológico
Frequentemente o exame radiológico convencional se apresenta normal (valoriza-se o exame físico).
Pode encontrar-se:
· Depósitos calcáreos - bursite calcárea e outras;
· Osteoporose difusa ou localizada;
· Condensação óssea - tumores;
· Lesões líticas;
· Lesões degenerativas - artrose;
· Redução do estreito acrômio-tuberositário (desgaste-desnutrição do manguito tendinoso).

Flexão e extensão contra-resistência.

Exame da corrediça bicipital.


Articulação gleno-umeral.

Exame do manguito rotador.
Artrografia
Com contraste opaco ou pneumografia (ar) pode ser útil para diagnosticar ruptura da cápsula, perfuração do tendão do supra-espinhoso e outras alterações estruturais.

Outros métodos
· Punção biópsia.
· Cintilografia óssea articular.
· Artroscopia.
· Ultra-sonografia da articulação.

Classificação
Podemos dividir didaticamente o ombro doloroso em várias síndromes diferentes, entre elas se destacam:
· Síndrome do impacto;
· Tendinite bicipital;
· Tendinite calcárea;
· Capsulite adesiva;
· Artropatias;
· Originada em outros locais;
· Extrínsecas (neurites braquial, tumor Pancoast, síndrome ombro-mão, neoplasias, metástases, diabetes mellitus, hipo-hipertiroidismo, anquiloidoses).

Paciente - 50 anos com calcificações homogêneas na região bicipital bursite calcárea.

Mulher - 45 anos com avançada artrite reumatóide e osteoporose

Paciente - 58 anos com acentuada lesão degenerativa - artrose.

RM parcial do manguito rotador com lesão do tendão do supra-espinhoso.

Pontos dolorosos do ombro

1. Síndrome do impacto
É uma síndrome dolorosa do ombro acompanhada por alteração na mobilidade local, sendo caracterizada por uma tendinite, geralmente, do tendão do supra-espinhoso e bursa subacromial, com lesão parcial ou total deste ou de outros tendões.
Ocorre com maior frequência acima dos 40 anos de idade, com predominância da etiologia traumática.
Sabe-se que o impacto causando atrito e posterior degeneração ocorre durante a elevação anterior do braço, ocorrendo contra superfície inferior do acrômio.
Alguns autores descrevem três fases clínicas:
- Fase I: abaixo dos 25 anos, ocorrendo dor aguda após esforço prolongado. Nesta fase há edema e hemorragia em nível de bursas e tendões;
- Fase II: entre 25 e 40 anos de idade e já começa fibrose e espessamento da bursa subacromial, além da tendinite. Paciente queixa de dor noturna e após atividades. Pode ocorrer ruptura parcial do manguito rotador;
- Fase III: acima dos 40 anos. Paciente apresenta dor contínua com perda da força de mobilização devido à ruptura completa de um ou vários tendões.

TENDINITE E BURSITE DO OMBRO
Mecanismo do "arco doloroso de Simmonds".


Bloqueio gleno-umeral.
Diagnóstico
Além da anamnese, podemos utilizar algumas manobras úteis no exame físico, damos preferência à mobilização ativa e passiva do ombro, deixando de lado inspeção, palpação a ausculta que nos fornecerão poucos subsídios diagnósticos.
Movimentos ativos podem estar alterados pela dor e, em casos mais graves, pode estar presente devido à capsulite secundária.
Os principais movimentos são:

· Abdução do braço: aparecimento da dor entre 70o e 120o de abdução, conhecido como "arco doloroso de Simmonds";
· Flexão anterior máxima do braço com escápula estabilizada: dor local;
· Abdução resistida: com o braço encostado no tórax, pedir ao paciente para fazer a abdução: dor na inserção do supra-espinhoso no úmero;
· Radiografia simples: fornece-nos poucos dados;
· Artrografia: nos orienta quanto à integridade dos tendões;
· Ecografia: pode ajudar no diagnóstico de tendinite, se bem-feita;
· Ressonância magnética: excelente exame, mas fora da realidade da maioria das instituições por seu alto custo, somente usado em casos muito selecionados.

2. Tendinite bicipital
Caracteriza-se por envolvimento do tendão da porção longa do bíceps branquial com ruptura posterior em alguns casos. É muito comum sua associação com a tendinite do manguito rotador.

Diagnóstico
Dor na face anterior do braço e ombro localizada sobre o tendão, principalmente na corredeira bicipital.
Para o diagnóstico é importante a palpação local e as movimentações especiais.
Manobra de Yergason: dor local quando o paciente faz supinação do antebraço contra-resistência numa posição de cotovelo fletido a 90º junto ao tronco.

3. Tendinite calcárea
Diagnosticada pela radiografia simples, é mais comum no tendão do supra-espinhoso, ocorrendo com mais frequência no sexo feminino.
A tendinite calcárea aguda pode apresentar-se de forma mais agressiva com muita dor, limitação da mobilização ativa e passiva do ombro e, ocasionalmente, eritema no local.

Diagnóstico
Radiografia revela o depósito calcificado localizado.

4. Capsulite adesiva
Capsulite adesiva pode ser definida como uma condição de etiologia desconhecida caracterizada por uma restrição dolorosa global da movimentação da articulação gleno-umeral em todos os planos, tanto ativa quanto passiva. Existem condições associadas, como diabetes, tireoidopatias, doença cardíaca e pulmonar, que classificam a capsulite como secundária.

Diagnóstico
Geralmente acomete indivíduos acima dos 40 de idade, sendo mais comum nas mulheres.
Alguns autores descrevem três fases diferentes. Inicialmente ocorreria dor no ombro, que passaria para uma fase de dor e rigidez, dando lugar a uma fase final que quase não teria dor e sim uma rigidez importante.
No exame clínico existe diminuição da movimentação ativa e passiva da articulação gleno-umeral, principalmente a elevação anterior, rotação interna e externa do braço.
Radiografia e angiografia podem contribuir muito pouco para o diagnóstico.

5. Artropatias - artrites
É importante lembrar que algumas enfermidades acometem as articulações do ombro, como a artrose gleno-umeral e acrômio-clavicular, a artrite reumatóide em fases mais tardias e algumas doenças microcristalinas como o depósito de hidroxiapatita, entre outras.
Gota - pseudogota/artrites sépticas.

6. Originada em outros locais
O ombro também é sede de dor irradiada e referida de outras regiões do corpo, como a coluna, pulmão etc.

2 comentários:

  1. Muito interessante a matéria.
    Bastante informativa.
    Parabéns.

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  2. Parabéns pela maneira bem compreensível para quem como eu nada sabe de medicina.
    Só fiquei com uma dúvida, haverá maneira através de produtos naturais evitar a aculumação calcarea? Tenho 59 anos e uma peritendinite calcica.
    Se me podesse informar, ficaria muito grata.
    Ana Bela

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